domingo, 27 de janeiro de 2013


Tragédia em Santa Maria, mata mais de 200 pessoas.


O caso do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, onde até agora já foram contabilizados 245 mortos e mais cerca de 50 pessoas feridas, vai além da comoção por tamanha tragédia. Não quero faltar com respeito ao luto dos amigos e familiares das vítimas. Eu mesmo perdi familiares neste fúnebre evento. Mas acho que temos que pensar em que contexto está inserida tal tragédia, para podermos entender o que está ocorrendo, discutir com a sociedade e agir corretamente e eficazmente para prevenir que isto não ocorra novamente.

Logo, veremos um amplo debate sobre a segurança nas boates, o descumprimento de normas de segurança, a localização das saídas de emergência, o despreparo dos sistemas de saúde para atender tamanha demanda, o descuido dos promotores do evento por aceitarem um show pirotécnico (que supostamente iniciou o incêndio), a superlotação da casa, etc.




Eu gostaria de falar sobre o tema sob uma perspectiva sociológica. Examinarei a genealogia do acidente, com todos os processos que, concomitantes, acarretaram no incêndio. Centrarei no processo geral, como algo que poderia ter ocorrido em qualquer lugar no Brasil, e não no acidente em particular.




Entendo que esta tragédia faz parte de um processo específico que vem ocorrendo nas regiões com maior aglomerado urbano. Com o aumento da população em espaços cada vez menores, temos uma regulação maior sobre os espaços de convivência da população, em especial da população mais jovem que procura se reunir à noite para conversar ou dançar. Questões como a ocupação dos espaços públicos, o barulho proveniente dos aglomerados de pessoas, o lixo produzido por tais ocupações estão na pauta do dia em muitos locais.



Em Porto Alegre, por exemplo, como em grande parte das cidades, há um toque de recolher, com a proibição da ocupação das calçadas pelos bares, a exigência de diminuição do barulho após a meia noite e de isolamento acústico nas casas noturnas e o fechamento de locais abertos de grande ocupação devido à reclamação dos vizinhos. Locais abertos como o Bar do Tutti, o Bar do Élio e o Bar Bambus, foram fechados recentemente em Porto Alegre em função do barulho, da sujeira deixada, ou por não possuírem a documentação exigida para o funcionamento. Com isso, os jovens passam a se reunir em locais confinados, como as casas noturnas, tolerados por não produzir barulho para os vizinhos ou sujeira nas ruas, mas que  também não possuem o licenciamento adequado.

Ou seja, é criada toda uma regulamentação sobre como devem ser os espaços para os jovens ocuparem nas noites das grandes cidades. E conhecemos bem o modelo que estes locais devem seguir. Casas noturnas fechadas, privadas, quanto mais isoladas melhor (com o fim de evitar o barulho). Quanto mais gente ocupando o menor espaço possível, melhor para os donos das casas, maior o lucro. Com isso, nem sempre a regulamentação de segurança é cumprida à risca. Em um mundo extremamente competitivo, de exigência de sucesso financeiro, nada mais comum do que isso. E a demanda por este tipo de local também é muito grande. Formam-se filas enormes, as fotos nas casas noturnas são valorizadas pelos jovens e divulgadas no Facebook.




Isso tudo ocorre em detrimento dos espaços públicos ou abertos. Espaços onde se poderiam realizar grandes shows, utilizar equipamentos pirotécnicos, onde há espaço para as pessoas se reunirem. Ao invés disto, privilegiam-se espaços confinados. Na Kiss, em Santa Maria, dois mil jovens reunidos em um local, com apenas uma saída e sem nenhuma abertura, para evitar que o barulho atingisse os vizinhos.

Ou seja, este não foi um acidente isolado. Poderia ter ocorrido em qualquer local. Esta tragédia faz parte de um processo recente de confinamento das atividades noturnas dos jovens que moram nas grandes cidades.
De um modo ou de outro, os jovens precisam se reunir, conversar interagir, em um mundo cada vez mais o contato é virtual, através das redes sociais, ao invés da interação face a face. Cabe a sociedade pensar no modo como quer que isso ocorra e nas consequências destas escolhas.

Está mais do que na hora da sociedade discutir suas políticas com relação ao tema, como algo sério, que vai além das reclamações de moradores de determinada área por sossego durante as noites. Se continuarmos a achar que o melhor é evitar que os jovens se reunam nas ruas para minimizar o "barulho excessivo" ou a "baderna", temos que estar cientes dos riscos implicados no ato de se reunir um grupo cada vez maior de jovens nestes espaços confinados, que este episódio demonstrou que pode ter consequências funestas.




A presidente Dilma Rousseff, que estava em viagem oficial ao Chile, cancelou sua agenda no país e segue direto para Santa Maria, no Rio Grande do Sul, onde um incêndio numa boate deixou mais de 180 mortos.

O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, informou no witter, que também estava seguindo para a cidade.

“Domingo triste! Estamos tomando as medidas cabíveis e possíveis. Estarei em Santa Maria no final da manhã”, disse ele no microblog.

Também no Twitter, a ministra da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, informou qua a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) solicita apoio de profissionais de saúde voluntários.


“Santa Maria é cidade universitária com a UFSM. Possui jovens de muitos lugares do RS e do Brasil. Impossível nessa hora não pensar que em geral são jovens que estão em uma boate no sábado. Quantas famílias procuram agora de seus jovens?”, disse a ministra, que é gaúcha, em duas mensagens no Twitter.

Em entrevista à rádio CBN, no início da manhã, o secretário de Segurança do Rio Grande do Sul, Airton Michels, confirmou o horário do início do incêndio, por volta de 2h30m da manhã. Segundo ele, a prioridade no momento é garantir o atendimento às vítimas e atender os sobreviventes.

A preocupação no momento, muito embora a polícia esteja lá, não é identificar as causas.

- Vamos fazer isso, mas a prioridade, agora, é salvar vidas – afirmou o secretário.

O secretário informou ainda que a Secretaria de Saúde está disponibilizando bancos de sangue e enviando equipamentos necessários para a identificação das vítimas. Além disso, todas as aeronaves da Secretaria de Segurança e da FAB estão sendo deslocadas para o local.


Ainda mais cedo, Michels informou que estava se deslocando para Santa Maria. A cidade é considerada o principal polo universitário do Rio Grande do Sul.



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