sexta-feira, 3 de junho de 2016

ÉDIPO, JOCASTA, ANTÍGONA, FREUD E ANNA


A figura de Édipo se situa, na Grécia mítica, na família dos labdácidas, família real de Tebas, sendo ele o centro de um dos grandes ciclos da mitologia, o chamado ciclo tebano.

Antes, porém, a origem do nome. Édipo, no grego antigo, quer dizer o de “pés inchados”.

Nosso herói faz parte de uma linhagem de personagens que têm os “pés feridos”, os “pés vulneráveis”, personagens que não “pisam” bem no real, que não lidam bem com as coisas concretas.

Édipo é aquele que tem dificuldades para pisar na terra, sendo esta, como sabemos, um símbolo da função maternal, princípio passivo, feminino.

A mitologia grega tem vários personagens com problemas semelhantes, nos pés ou nas pernas, Aquiles, Orion, Orestes, Hefesto e outros. O avô de Édipo chamava-se Lábdaco, conhecido como o Coxo.

Lembremos que a letra grega “lambda” está na origem deste nome, a sugerir pelo seu desenho uma idéia de anomalia, de falta de firmeza, de pés tortos, cambaios, de desigualdade no caminhar. Laio, pai de Édipo, é conhecido como o torto, o esquerdo, o canhoto.
Lábdaco, recordemos, como Penteu, teve seu corpo destroçado pelas mênades de Dioniso porque se opôs à divulgação do culto do filho de Sêmele em Tebas.

Os pés, em antigas tradições, sempre apareceram simbolicamente ligados à alma, ou melhor, ao destino que ela deveria suportar.

Os pés, com o seu movimento ambivalente, alternativamente movimentados, impostos ao chão e dele nos retirando, são, ao mesmo tempo, um símbolo de poder, de partida e de chegada, de comando, como de sustentação e de humildade, pois afinal são eles que suportam tudo o que está acima deles, mantendo contacto com a mãe-terra, de onde o homem procurou sempre afastar-se orgulhosamente.

Assim como a terra se opõe ao céu, os pés se opõem à cabeça. Desprezados, maltratados, descuidados, os pés nos dizem, todavia, que a cabeça nada é sem eles. Muitas vezes considerados como um símbolo fálico, indicam o ponto de partida, lugar por onde os movimentos se iniciam.

Nesta perspectiva, pés claudicantes, vulneráveis (Jacob, Thor, Hefesto, Talos, Aquiles etc. ) costumam significar um sinal da vitória divina sobre o ego humano, o pé do vencedor sobre a cabeça do vencido.

É o que diz a sentença pronunciada no processo entre a mulher e a serpente na Bíblia: “Ela te pisará a cabeça e tu armarás traições ao seu calcanhar.” (Gênesis, III, 15).

O pé magoado, lembre-se, pode ser um sinal de conhecimento, tal como a visão magoada, mas de um conhecimento ativo, já que adquirido na adversidade e submetido a provações. Nos mitos, a ferida no corpo humano tanto marca nele o ponto fraco como indica a presença da força divina.

Não é por outra razão, por exemplo, que Aquiles, o de pés miticamente rápidos, perecerá precisamente através deles, que o faziam superar todos os outros homens.
É o caso de Édipo, pés deformados, fraqueza de alma, fraqueza que ele procurou compensar externamente por uma afirmação através de sua superioridade orgulhosa e dominadora.

Édipo e a esfinge

Outro aspecto a destacar com relação à linhagem de Édipo é que toda a sua família tem, como se disse, relação com o lado esquerdo, considerado tradicionalmente como o lado ruim. A esquerda é a sinistra, em latim “sinister”. Sinistro quer dizer infortúnio, dano, perda. A palavra pressagia acontecimentos funestos, infaustos. Esta noção já existia na antiga Grécia, onde o lado direito era, segundo Ésquilo (Agamemnon), símbolo da força, da retidão, da normalidade, do sucesso; os presságios funestos, nos augúrios, apareciam sempre pelo lado esquerdo do céu. Biblicamente, temos o mesmo. A direita corresponde à direção do paraíso e ao lugar dos eleitos no julgamento final, enquanto a esquerda marca a direção do inferno, o lugar dos danados.

O simbolismo da esquerda no mito marca a direção do matriarcado, por oposição ao da direita, direção do patriarcado. Uma das consequências deste entendimento é, por exemplo, a discriminação que sempre envolveu os canhotos. Uma explicação racional para esta discriminação talvez esteja no fato de estatisticamente haver muito mais destros que canhotos, o que sempre foi visto como um afastamento da normalidade. Lembro, não faz muito tempo, nas escolas primárias, em muitas nações desenvolvidas, que se obrigava o canhoto a escrever com a mão direita. Aliás, um dos nomes do Diabo é Canhoto. O lado esquerdo é feminino, lunar, liga-se ao inconsciente, enquanto o direito é masculino, solar, liga-se ao consciente.

Laio, filho de Lábdaco, ainda menor, com a regência do tio, Lico, assumiu então o trono. Assassinado Lico, por questões de disputas internas no reino, Laio, temendo destino igual, fugiu, indo se refugiar na corte de Pélops, rei de Pisa. Bem recebido, traiu contudo as regras da hospitalidade. Sentindo forte atração física por Crisipo, filho de Pélops, então um adolescente, raptou-o.

Morrendo os usurpadores que haviam assassinado Lico, Laio reassumiu o trono de Tebas, levando consigo o jovem e belo Crisipo. Pélops amaldiçoou publicamente o raptor e a deusa Hera, protetora dos amores legítimos, anatematizou a ambos. Crisipo, que correspondera à paixão de Laio, envergonhado, suicidou-se cheio de culpa. Tempos depois, Laio se casou com Jocasta (a que brilha sombriamente), também chamada de Epicasta, tebana de alta linhagem.

Jocasta

Dessa união nasceu Édipo, marcado por terrível maldição. Tebas só se manteria como “pólis” autônoma e íntegra se Laio morresse sem descendência, dizia uma antiga sentença oracular. A sentença foi reafirmada, com a previsão de que o filho de Laio, ainda no ventre materno, o mataria e causaria a ruína da orgulhosa família dos labdácidas. Laio, apesar dessa advertência, resolveu correr o risco.

Dentre as várias versões sobre o que aconteceu depois do nascimento da criança, ficamos com a da sua exposição. Com os pés fortemente atados e, segundo alguns, também com os calcanhares perfurados, por onde se passou um fio para pendurá-la numa árvore, a criança, com poucos dias de vida, foi abandonada no alto do monte Citeron. Pastores que andavam pela montanha ouviram o choro do menino; recolheram-no e o entregaram através de seus patrões aos reis de Corinto, que não tinham filhos. Recebeu a criança o nome de Édipo, sendo educada na corte como um jovem príncipe, forte, belo, vaidoso, orgulhoso, apesar dos pés “problemáticos”, sem ter a mínima noção de sua origem.

Um dia, num banquete no palácio real, um convidado, embriagado, chamou insultuosamente o jovem príncipe de “plastós”, postiço, falso filho. Interpelados, os reis de Corinto negaram veementemente o que ele ouvira do bêbado conviva, afirmando que ele era um filho legítimo e muito amado.

A pretexto de procurar uns cavalos que haviam sido roubados dos estábulos reais, Édipo, muito incomodado pelo que ouvira, sem nada comentar saiu do palácio resolvido a investigar a sua origem. Dirigiu-se a Delfos, grande santuário oracular de Apolo. A sibila, consultada, em transe profético, escandalizou os sacerdotes ao declarar que o jovem príncipe mataria o pai e se uniria sexualmente à sua própria mãe.

O resto da história é bem conhecido. Édipo, com medo de que a sentença se cumprisse, tomou o sentido contrário de Corinto. No caminho, numa disputa de passagem com um estrangeiro de aparência nobre, que vinha numa carruagem, acompanhado de dois soldados e de um arauto, que o escoltavam, além do cocheiro, Édipo, tomado por grande fúria, matou a todos, com exceção de um soldado da comitiva, que conseguiu escapar. Diz uma versão do mito que Laio voltava de Delfos aonde tinha ido para obter maiores informações sobre a sua descendência. Tirésias, o vidente cego, diz também a mesma versão, o advertira de que deveria, antes de partir, fazer um sacrifício à deusa Hera, a deusa protetora das justas núpcias e da prole legítima.

Fonte:
http://cidmarcus.blogspot.com.br/2011/02/edipo-jocasta-antigona-freud-e-anna.html?m=1

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