sábado, 18 de junho de 2011

Fernando Henrique Cardoso completa 80 anos

Na idade em que a maioria dos mortais aproveita a aposentadoria, Fernando Henrique Cardoso volta à cena política. Os 80 anos do ex-presidente, completados neste sábado (18/06/2011), sacramentam o retorno dele ao posto de conselheiro do PSDB. O líder ressurge em meio a uma oposição carente de discurso e de novos nomes. Não sairá candidato nem apartará brigas internas, mas será personagem fundamental nas eleições presidenciais de 2014 – se o PSDB permitir. E, ao que tudo indica, o partido está pronto para se reconciliar com FHC.
Líderes tucanos preparam uma grande festa partidária para comemorar o aniversário, no dia 30 de junho, em Brasília. Fernando Henrique disse que preferia apenas uma comemoração, o jantar oferecido por um grupo de amigos na semana passada em São Paulo. Mas a cúpula tucana insistiu. E FHC cedeu. O presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra,. “Posso garantir que Fernando Henrique será muito mais ouvido. O PSDB precisa dar a ele o papel de propor, inspirar e sustentar o nosso discurso.”

A homenagem em Brasília traz nas entrelinhas um pedido de desculpas da direção do partido pelos oito anos de esquecimento. Foram três derrotas seguidas em eleições presidenciais, sempre com os candidatos Geraldo Alckmin e José Serra renegando a memória de FHC. Em vez de defender as privatizações feitas pelo ex-presidente, Alckmin prestou-se a vestir jaqueta e boné com o logotipo de estatais para dizer que não as privatizaria em 2006. Já Serra citou mais o nome de Luiz Inácio Lula da Silva do que o de Fernando Henrique na campanha de 2010.


O cientista político Rui Tavares Maluf, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, explica o motivo de tanto temor. "O PSDB tinha todas as razões do mundo para defender FHC, mas, por cálculo político eleitoral, muita gente não teve coragem de se colocar ao lado dele, pois isso significaria estar contra Lula", diz Tavares Maluf. "Mas foi um erro grave: quem está num partido de oposição precisa assumir o ônus de ser oposição".

Com os tucanos calados, tomou conta do Brasil uma cantilena sobre uma tal herança maldita deixada por FHC. Ou estabilidade econômica virou maldição ou Lula delirava. "Discutir com um interlocutor tão cerebrino quanto Lula seria baixar o nível. Ele não tem limites na argumentação. A conversa fica pouco produtiva", analisa o cientista político Octaciano Nogueira, da Universidade de Brasília (UnB). Em 2011, com o Brasil livre da verborragia de Lula, o caminho está aberto para FHC.

Diplomacia – A sinalização de novos tempos veio com a carta enviada pela presidente Dilma Rousseff a Fernando Henrique pelo aniversário de 80 anos. Em 151 palavras, a petista defendeu com mais vigor o governo dele do que os presidenciáveis tucanos somados. Lembrou a criação do plano real, a capacidade de diálogo dele e a contribuição do tucano para a democracia.

Enquanto isso, Lula segue recusando o singelo convite de FHC para um cafezinho, para discutir o Brasil. Prefere atacar o adversário em entrevistas à imprensa. "A atuação de Lula intimidou os tucanos. A popularidade fez dele um intocável", diz Octaciano Nogueira. O reinado dele, no entanto, acabou.

Presidente de honra do PSDB, Fernando Henrique foi convidado para presidir também o conselho político do partido. Ele era o nome preferido de lideranças de todas as correntes, por representar alguém neutro – característica fundamental para comandar um grupo com tantas divergências internas.

Na última hora, José Serra impôs seu nome para o cargo de presidente do conselho. Em troca, cedeu a Tasso Jereissati a presidência do Instituto Teotônio Vilela, braço de formação política do partido. Mesmo assim, Fernando Henrique manteve um assento no colegiado. E fará valer sua influência.

Comemorações – Além do jantar na semana passada, FHC será homenageado neste domingo pela Orquestra Sinfônica de São Paulo (Osesp), que oferece a ele o concerto das 11 horas, com entrada gratuita. Fernando Henrique assiste ao concerto e, após a apresentação, participa de um brunch com os músicos e o público.

Os festejos estendem-se até o fim do ano. O Instituto Fernando Henrique, presidido pelo próprio, lançará em agosto o ciclo de seminários FHC 80 anos, sobre temas políticos, sociais e econômicos do Brasil e da América Latina, com palestrantes convidados.

Na cúpula tucana, a vontade é esticar a celebração da figura de FHC até 2014, quando o partido vai se confrontar, mais uma vez, com o PT nas eleições presidenciais. Líderes do PSDB descartam usar o ex-presidente como cabo eleitoral. Defendem que ele tenha um papel de articulação política e de construção de um discurso unificado para a oposição. "O retorno dele devolverá ao PSDB o voto de quem já não acreditava na oposição”, sentencia Rui Tavares Maluf.

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