sábado, 18 de junho de 2011
Simplicitate de Louis L. Kodo
Autor de dois livros de ensaios filosóficos, Blefe: o gozo pós-moderno e Dos Homens, Louis Kodo entra com Simplicitate no território da ficção, mesclando digressões filosóficas com uma narrativa fluída ao melhor estilo dos seus escritores favoritos: Fante e Bukowski. Em Simplicitate, o herói sem nome é um rato do centro de São Paulo, um personagem que parece ter saído de uma trama de HQ – outra influência confessa do autor – e que lembra os junkies típicos da literatura beat, sobretudo Henry Chinaski, o alter-ego de Bukowski. Marginal repulsivo, mas paradoxalmente carismático, o herói de Louis Kodo adora transar com mulheres extremamente gordas, é fã de Rita Cadilac, vende um chá alucinógeno para sobreviver, transita pelos lugares mais sujos e mais belos da cidade – a segunda personagem do livro – e faz parte de uma organização "terrorista", os sendoístas, que após uma série de ações subversivas trama o seu grande golpe: raptar "o bobo da corte da burguesia brasileira", o apresentador Jô Soares, tirando-o do ar por um mês. Com uma leveza ímpar, Simplicitate faz uma crítica à sociedade sem perder o humor. Consegue ser denso sem ser chato e propõe discussões sobre essa tal "pós-modernidade" sem a pretensão de ser um romance de tese. É, na realidade, o diário de um sobrevivente que sabe o que quer e o que não quer nesse estranho tempo em que vivemos. "O que vale não vale muito e só no acaso do silêncio, que interdita os sonhos torpes de grandeza, é que podemos encontrar algum elo com a simplicitate e fazer do comum, ao lado de figuras espirituosas, o lugar de nossa ingênua presença. Eu sei que não esperamos nada... e isso é bom." Que venha logo "Obscenitate", a continuação dessa saga. César Zamberlan
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