domingo, 7 de janeiro de 2018

Ultimatum

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1917

Mandato de despejo aos mandarins do mundo 

Fora tu, reles esnobe plebeu E fora tu, imperialista das sucatas

Charlatão da sinceridade e tu, da juba socialista, e tu, qualquer outro 

Ultimatum a todos eles

E a todos que sejam como eles Todos! 

Monte de tijolos com pretensões a casa Inútil luxo, megalomania triunfante E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral Que nem te queria descobrir  

Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular Que confundis tudo Vós, anarquistas deveras sinceros

Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores

Para quererem deixar de trabalhar Sim, todos vós que representais o mundo

Homens altos Passai por baixo do meu desprezo Passai aristocratas de tanga de ouro Passai Frouxos

Passai radicais do pouco Quem acredita neles? Mandem tudo isso para casa

Descascar batatas simbólicas 

Fechem-me tudo isso a chave
E deitem a chave fora Sufoco de ter só isso a minha volta

Deixem-me respirar Abram todas as janelas Abram mais janelas Do que todas as janelas que há no mundo  Nenhuma idéia grande Nenhuma corrente política

Que soe a uma idéia grão E o mundo quer a inteligência nova A sensibilidade novaO mundo tem sede de que se crie

Porque aí está apodrecer a vida Quando muito é estrume para o futuro O que aí está não pode durar Porque não é nada  Eu da raça dos navegadores

Afirmo que não pode durar Eu da raça dos descobridores Desprezo o que seja menos

Que descobrir um novo mundo Proclamo isso bem alto Braços erguidos Fitando o Atlântico 

E saudando abstractamente o infinito.

(Álvaro de Campos, em 1917).

Álvaro de Campos, Lisboa[1], 13 ou 15 de Outubro[2] de 1890 — 1935) é um dos heterónimos mais conhecidos, verdadeiro alter ego do escritor português Fernando Pessoa

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